Se a verdade é uma mulher, é espantosa e inesgotável a falta de tato e seriedade excessiva com que os filósofos dogmáticos tentam conquista-la. De fato, o dogmatismo é uma grandiosa e solene brincadeira de criança – talvez isso tenha parte no referido insucesso. São peças de edificações todas erguidas sobre uma certa
coisa usada como primeira pedra. Edificações tão sublimes e absolutas quanto as superstições populares ou as generalizações de fatos pessoais tão restritos quanto humanos, demasiadamente humanos.
Na antiguidade, grandes edifícios foram construídos – sob custos colossais de riqueza, trabalho e perspicácia – para expressar o espanto tão humano diante da grandeza cósmica sobre a qual a astrologia se debruçou. Na filosofia ocidental, o platonismo é o edifício de grandeza máxima.
Embora não seja desejável excluí-lo dogmaticamente, foi o platonismo que criou (erro nefasto) a pedra primeira, a
coisa sobre a qual a criança ergue, com peças, suas edificações: o espírito puro e o bem em si. Eu, portanto, herdo agora a força vinda da luta pela afirmação incondicional da vida (e do perspectivismo, sua condição fundamental) contra este erro.
Escárnio: teria Sócrates merecido a cicuta?
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