segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

THE POEM

they all keep publishing poems
but is doubtful what a
poem can really accomplish.

centuries of poems
and we're back to the
starting point.

like philosophy, history,
medicine, science, poems seem to
alter things,
seem to lead toward a way
out
then falter against the
changing currents and increasing
odds.

a poem is no better than a
good can opener,
a spare tire,
or
aspirin for a
headache.

the poem isn't much
but let me tell you
if I hadn't discovered
it
I would be dead
or
you would be dead
or many people
would be
dead
or
if not dead
then horribly
multilated
in one sense or
another.

still, a poem can only
be a poem.

lines like this

floating on a page

burning holes in the face of
death

twisting the cap off tube
of
night

following the dog of summer
to the end of his
rope.

huh?

(Charles Bukowski, O Amor é Tudo Que Nós Dissemos Que Não Era)
         

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

OPACIDADES

Santa Joana d'Arco na fogueira, últimos momentos

das inquietações
eis o calor intenso:
homenageia o carrasco o grito
ou o silêncio?
                

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O ABSURDO 2

Em tom de troça, muitas vezes se cita Schopenhauer, que fazia o elogio do suicídio diante de uma mesa bem servida. Mas não vejo nisto motivo para brincadeira. Esta maneira de não levar o trágico muito a sério não é tão grave assim, mas ela acaba condenando o seu homem.

No apego de um homem a sua vida há algo mais forte que todas as misérias do mundo. O juízo do corpo tem o mesmo valor que o do espírito, e o corpo recua diante do aniquilamento. Cultivamos o hábito de viver antes de adquirir o de pensar. Nesta corrida que todos os dias nos precipita um pouco mais em direção à morte, o corpo mantém uma dianteira irrecuperável.

(Albert Camus, O Mito de Sísifo)
          

GRITE QUANDO SE QUEIMAR

O que o mantinha fora da sargeta era pura sorte, e a sorte jamais durava. Bem, era uma pena aquele negócio da Lu, mas Lu era uma vencedora. Esvaziou o copo e deitou-se. Pegou Resistência, Rebelião e Morte, de Camus... leu algumas páginas. Camus falava de angústia, terror, e da miserável condição humana, mas falava disso de uma forma tão cômoda e floreada... a linguagem... aquele ali achava que nada afetava a ele ou a sua literatura. Em outra palavras, era como alguém que acabou de concluir um lauto jantar de bife com batatas e salada, e depois enxaguou com uma garrafa de bom vinho francês. A humanidade podia ter andado sofrendo, mas ele não. Um sábio, talvez, mas Henry preferia  alguém que gritasse quando se queimasse. Largou o livro no chão e tentou dormir.

(Charles Bukowski, Numa Fria)
             

O ABSURDO

Eu dizia que o mundo é absurdo, mas ia muito depressa. Este mundo não é razoável em si mesmo, eis tudo o que se pode dizer. Porém o mais absurdo é o confronto entre o irracional e o desejo desvairado de clareza cujo apelo ressoa no mais profundo do homem. O absurdo depende tanto do homem quanto do mundo. Por ora, é o único laço entre os dois.

Se considero verdadeiro esse absurdo que rege minhas relações com a vida, se me deixo penetrar pelo sentimento que me invade diante do espetáculo do mundo, pela clarevidência que me impõe a busca de uma ciência, devo sacrificar tudo a tais certezas e encará-las de frente para poder mantê-las. Sobretudo, devo pautar nelas minha conduta e perseguí-las em todas as suas consequências. Falo aqui de honestidade.

Neste ponto do seu caminho, o homem se encontra diante do irracional. Sente em si o desejo  de felicidade e de razão. O absurdo nasce desse confronto entre o apelo humano e o silêncio irracional do mundo. Isso é o que não devemos esquecer. A isto é que devemos nos apegar, porque toda a consequência de uma vida pode nascer daí. O irracional, a nostalgia humana e o absurdo que surge do seu encontro, eis os três personagens do drama que deve necessariamente acabar com toda a lógica de que uma vida é capaz.

Se julgo que uma coisa é verdadeira, devo preservá-la. Se me disponho a procurar a solução para um problema, ao menos não posso escamotear com essa mesma solução um dos termos do problema. O único dado para mim é o absurdo. A questão é saber como livrar-se dele e se o suicídio deve ser deduzido desse absurdo. A primeira, e no fundo, única condição das minhas investigações é preservar aquilo que me oprime, respeitando em consequência o que julgo essencial nele. Acabo de defini-lo como uma confrontação e uma luta sem trégua.

E levando ao extremo essa lógica absurda, devo reconhecer que tal luta supõe a ausência total de esperança (que nada tem a ver com o desespero), a recusa contínua ( que não deve ser confundida com renúncia) e a insatisfação consciente (que não poderia se assimilar com a inquietude juvenil). Tudo o que destrói, escamoteia ou desfalca essas exigências (e em primeiro lugar a admissão que destrói o divórcio) arruína o absurdo e desvaloriza a atitude que pode então ser proposta. O absurdo só tem sentido na medida em que não seja admitido.

Vamos morrer, escapar pelo salto, reconstruir uma casa de ideias e de formas à nossa medida? Ou, ao contrário, vamos manter a aposta dilacerante e maravilhosa do absurdo?

Neste ponto, o problema se inverte. Anteriormente tratava-se  de saber se a vida devia ter um sentido para ser vivida. Agora parece, pelo contrário, que será tanto melhor vivida quanto menos sentido tiver. Viver uma experiência, um destino, é aceitá-lo plenamente.

Para um homem sem antolhos não há espetáculo mais belo que o da inteligência às voltas com uma realidade que a supera. O espetáculo do orgulho humano é inigualável. Compreendo então por que as doutrinas que me explicam tudo ao mesmo tempo me enfraquecem.

O absurdo me esclarece o seguinte ponto: não há amanhã. Esta é, a partir de então, a razão da minha liberdade profunda.

Agora, trata-se viver.

(Albert Camus, O Mito de Sísifo. Trechos adaptados)