à Carla
Bahia de Itaparica
porção de terra
cercada
de rimas ricas
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
(IN)TIMIDADE
Timidez não é crime
Só o tímido pode dizer
Íntimo suspeito que suprime
O que não é ou poderia ser
Só o tímido pode dizer
Íntimo suspeito que suprime
O que não é ou poderia ser
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
SALÁRIO, TEMPO E POESIA
Trabalho é quem o mais consome
Labuta a todos nós assalta
Subtrai o que é esquivo e insone
É pouco o tempo que nos resta:
Polígono de xis arestas
Sem gozo é como estar ALONE
Suando e franzindo a queixa
Quisera possuir-te à tarde
Gozar contigo a alforria
Fazer soar da inveja o alarde
Viver o que ninguém faria
À noite, então, reincidiríamos
Felizes, na falta de zelo
Fazer bravata dos conselhos
Orar ao deus do desmazelo
Chegada a hora em que se dorme
Enfim, amar o que é real
Vestir aquilo que nos torne
Bastardos filhos da moral
Já cedo, ao despertar da máquina
Salário: o senhor das máculas
Teu corpo é todo sonolência
O tempo faz de nós ausência
domingo, 26 de dezembro de 2010
PLENA PAUSA
Lugar onde se faz
o que já foi feito,
branco da página,
Soma de todos os textos,
foi-se o tempo
Quando, escrevendo,
era preciso
uma folha isenta.
Nenhuma página
jamais foi limpa.
mesmo a mais Saara,
ártica, significa.
nunca houve isso,
uma página em branco.
No fundo todas gritam,
pálidas de tanto.
(Paulo Leminski)
(Paulo Leminski)
REPETIÇÃO
O que preciso ler
já foi escrito
Se insisto em escrever:
Descompromisso
Dizer e redizer
O que disseram
Sem medo de temer
O que é sincero
já foi escrito
Se insisto em escrever:
Descompromisso
Dizer e redizer
O que disseram
Sem medo de temer
O que é sincero
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
RELAÇÕES PSÍQUICAS DE (RE)PRODUÇÃO
O ID veio primeiro:
Junto aos outros animais
O humano, sem ainda sê-lo,
Era presa e ficava atrás
O EGO, pequeno engenho
Trouxe técnica e metafísica
O humano, perdendo o pelo
Caçou, plantou, se fez artista
Por último, o SUPEREGO
Moldou-se pai dentro de nós
Autorizou a autoridade
A pôr de pé civilizações
Junto aos outros animais
O humano, sem ainda sê-lo,
Era presa e ficava atrás
O EGO, pequeno engenho
Trouxe técnica e metafísica
O humano, perdendo o pelo
Caçou, plantou, se fez artista
Por último, o SUPEREGO
Moldou-se pai dentro de nós
Autorizou a autoridade
A pôr de pé civilizações
VINDA E IDA
Barranco abaixo eu fui...
Não que seja ruína o tema
É que antes o que era subida
Fez de mim o contrário da ida
Inverteu solução e problema
Inverteu solução e problema
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
PUTARIA
Incestos às sextas
Romance aos domingos
Rugido de besta
Dormir co'inimigo
Seu toque de gueixa
Fragrâncias lascivas
Lugar que se beija
'Friozim' na barriga
Delírio platônico
Leitura que sua
Dois corpos sinfônicos
A casa e a rua
Romance aos domingos
Rugido de besta
Dormir co'inimigo
Seu toque de gueixa
Fragrâncias lascivas
Lugar que se beija
'Friozim' na barriga
Delírio platônico
Leitura que sua
Dois corpos sinfônicos
A casa e a rua
domingo, 19 de dezembro de 2010
MOMENTÂNEO
Um comboio interminável de dias me trouxe até aqui.
Desci dele por um momento: quis saber sobre o que vi.
Só o momento suspenso, porém, quis dizer-me sobre tudo
Que nem em sonho ou mesmo delírio
Teria eu vivido
Contudo
De volta ao comboio sem fim
Parti presto e novamente
De mim mesmo desassistido
Distraído e para sempre
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
SALA ESCURA
Uma serpente de fumaça
se desfaz em nuvens narcóticas
no escuro da sala insone
onde sentimos de novo a presença
do futuro de tantos sonhos
que trafegam por entre palavras
e ecos de um vale concreto
até atracar no silêncio
da segunda noite que dorme
de cansaço, de amor, de nós dois
se desfaz em nuvens narcóticas
no escuro da sala insone
onde sentimos de novo a presença
do futuro de tantos sonhos
que trafegam por entre palavras
e ecos de um vale concreto
até atracar no silêncio
da segunda noite que dorme
de cansaço, de amor, de nós dois
domingo, 5 de dezembro de 2010
(DES)TEORIZAÇÃO
“...como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,
apetecível, antes despiciendo,
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho”.
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho”.
(Drummond)
Há práticas necessárias
Em cujo momento
Torna-se vil
A teorização
Há teorias necessárias
Em cujo momento
Torna-se vil
Insensata ação
sábado, 4 de dezembro de 2010
Tribo
Os tribalistas saudosistas do futuro
Abusam do colírio e dos óculos escuros
Pé em Deus
E fé na Taba
Abusam do colírio e dos óculos escuros
Pé em Deus
E fé na Taba
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
MUNDANO
Erva daninha
Não faz brasa
Não aquece
Não expande adiante
os ramos da lucidez
Envelhece
Sem flor ou raiz
É complexo pensamento
Silêncio sem desejo
Rigidez
Cobre o tronco
Aparta do Sol
É homem fora do mundo
Submergido farol
Ilusão
Não faz brasa
Não aquece
Não expande adiante
os ramos da lucidez
Envelhece
Sem flor ou raiz
É complexo pensamento
Silêncio sem desejo
Rigidez
Cobre o tronco
Aparta do Sol
É homem fora do mundo
Submergido farol
Ilusão
terça-feira, 30 de novembro de 2010
(DES) CONTINUO
Descontínua
a amizade não cessa
Mesmo pontilhada
curva
ou apagada
a presença
Segue, no papel
o rabisco
de palavras
sem pressa
Continuam
Aconteça
o que
aconteça
a amizade não cessa
Mesmo pontilhada
curva
ou apagada
a presença
Segue, no papel
o rabisco
de palavras
sem pressa
Continuam
Aconteça
o que
aconteça
sábado, 27 de novembro de 2010
FAST FOOD(IDO)
Batatinha quando nasce...
É arrancada
Lavada
Descascada
Esquartejada
Frita
Salgada
Desejada
Vendida
Comprada
E devorada
Total e completamente
Por uma fileira de dedos engordurados
e um batalhão de olhos caninos
É arrancada
Lavada
Descascada
Esquartejada
Frita
Salgada
Desejada
Vendida
Comprada
E devorada
Total e completamente
Por uma fileira de dedos engordurados
e um batalhão de olhos caninos
segunda-feira, 31 de maio de 2010
PARADEIRO
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio
Perto do precipício
Haverá paraiso
Sem perder o juízo e sem morrer?
Haverá para-raio
Para o nosso desmaio
No momento preciso?
Uns vão de paraquedas
Outros juntam moedas
Antes do prejuízo
No momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?
(AA)
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio
Perto do precipício
Haverá paraiso
Sem perder o juízo e sem morrer?
Haverá para-raio
Para o nosso desmaio
No momento preciso?
Uns vão de paraquedas
Outros juntam moedas
Antes do prejuízo
No momento propício
Haverá paradeiro para isso?
Haverá paradeiro
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de nós?
(AA)
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
...DORES
O Experimentador
Amava suas dores
E do tanto que Amador
Juntou-se a tantos outros
Contadores de estórias
De cor e de memória
Amava suas dores
E do tanto que Amador
Juntou-se a tantos outros
Contadores de estórias
De cor e de memória
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
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