domingo, 22 de maio de 2011

CORAÇÃO MAIOR
















Coração maior que o mundo
às vezes mudo
se encontra só
solitário e cheio de dó
navegando um oceano inteiro
feito de uma só nota
e dos sinais de um faroleiro
numa noite sem cor.
Sonha em ser o que já é,
em dançar a ciranda das marés,
em ir aonde for
a nascente do seu amor
que dá de beber a um 
coração menor que o mundo,
que, às vezes mudo,
supera a desavença.
Desfaz-se de tudo
que desfaça a sua crença:
a medida da imensaidão,
a vertigem que afasta o chão.
Renova a si
por amar sem desistir
da semelhança e diferença.
Jovem e fazendo rir,
mesmo que envelheça,
faz com que tudo seja
o que é e renasça e cresça:
a esperança,
a bonança,
a certeza da presença
do seu amor
                         

sexta-feira, 6 de maio de 2011

DE TODOS OS OBJETOS

De todos os objetos, os que mais amo
são os usados.
As vasilhas de cobre com as bordas amassadas,
os garfos e as facas cujos cabos de madeira
foram colhidos por muitas mãos. Estas são as formas
que me parecem mais nobres.
Estes ladrilhos das velhas casas
gastos por terem sido pisados por tantas vezes,
estes ladrilhos onde cresce a grama,
me parecem objetos felizes.

Impregnado do uso de muitos,
amiúde transformados, foram aperfeiçoando as suas formas
e se fizeram preciosos
porque têm sido apreciados muitas vezes.
Agradam-me, inconcluso, os fragmentos de esculturas
com os braços cortados. Viveram também por mim.
Caíram porque foram transladados.
Derrubaram-nas, talvez, porque estavam muito altas.
As construções quase em ruína
parecem, todavia, projetos sem acabar,
grandiosos; suas belas medidas
podem já imaginar-se, mas ainda necessitam
de nossa compreensão. E além do mais
já serviram, inclusive já foram superadas. Todas essas coisas
me fazem feliz.

(B. Brecht)

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LITOGRAVURA

      Mão de estátua.
Templo. Coluna. Arco de triunfo.
      Mil duzentos e cinqüenta.
Qualquer pedra na Europa
      é suspeita de ser
mais do que aparenta.

      Felizes as pedras da minha terra
que nunca foram senão pedras.
      Pedras, a lua esfria
e o sol esquenta.

(Paulo Leminski)
         

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O NOME DA TELA

    Guerra e paz,
binômio eterno.
    Encontro mordaz:
primaverainverno.