quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

GRITE QUANDO SE QUEIMAR

O que o mantinha fora da sargeta era pura sorte, e a sorte jamais durava. Bem, era uma pena aquele negócio da Lu, mas Lu era uma vencedora. Esvaziou o copo e deitou-se. Pegou Resistência, Rebelião e Morte, de Camus... leu algumas páginas. Camus falava de angústia, terror, e da miserável condição humana, mas falava disso de uma forma tão cômoda e floreada... a linguagem... aquele ali achava que nada afetava a ele ou a sua literatura. Em outra palavras, era como alguém que acabou de concluir um lauto jantar de bife com batatas e salada, e depois enxaguou com uma garrafa de bom vinho francês. A humanidade podia ter andado sofrendo, mas ele não. Um sábio, talvez, mas Henry preferia  alguém que gritasse quando se queimasse. Largou o livro no chão e tentou dormir.

(Charles Bukowski, Numa Fria)
             

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