quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

ALÉM DO BEM E DO MAL - 19

 
A despeito do que disse Schopenhauer, acredito que a vontade não é algo simples de se conhecer com clareza garantida. A vontade é mais complicada do que uma certeza imediata. É um complexo de sensações, reflexões e um afeto: o do comando. O homem que quer, não só ordena a algo dentro de si, como também obedece ao comando. Aquilo que se denomina livre arbítrio nada mais é do que o afeto de superioridade em relação àquele que deve obedecer. Esta consciência é inerente a toda vontade.

Todas as ilusões diante de um eu fixo e das falsas valorizações que se tem feito da vontade – quase concluindo que basta o querer para o agir – são consequências da pressão, constrangimento e resistência ao movimento vindo do fato de que aquele que tem vontade, comanda e obedece simultaneamente.

O livre arbítrio é o complexo estado de prazer daquele que quer, que comanda e ao mesmo tempo se identifica e se confunde com o executante, que goza o triunfo sobre o obstáculo, mas que imagina que é a sua vontade que, no fundo, triunfou – pois para ele, querer e agir são uma coisa só, como se o êxito e a execução do querer fossem efeitos do próprio querer. Porém, aquele que quer acrescenta à sensação do prazer que lhe proporciona o comando, as sensações de prazer dos instrumentos e das subvontades das almas que executam e realizam com obediência. Eis, portanto, as bases do querer: uma coletividade composta de muitas almas. Daí a necessidade de encarar a vontade sob o aspecto moral (doutrina das relações de poder das quais nasce o fenômeno vida).
        

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