A ingênua criança cartesiana e a sua certeza imediata: eu penso. Mas como posso saber se o que está acontecendo é realmente pensar, e não querer ou sentir? Melhor dizendo: é o próprio pensamento que define a si mesmo como pensamento, ou a definição do que é pensamento exige sua comparação com aquilo que não é pensamento, ou seja, com o querer e o sentir?
A comparação não seria necessária caso decidíssemos aceitar a certeza imediata do eu fixo e imutável: eu penso, eu quero, eu sinto – cada qual distinto entre si por uma causa absoluta chamada eu. Mas o que é sentir, senão ter o eu tomado pela ação dos sentimentos e sensações? O que é querer, senão ter o eu submetido ao imperativo de uma vontade? Finalmente, o que é pensar, senão ter o eu tomado por abstrações que permitiram, inclusive, a crença num eu fixo e imutável?
Assim sendo, concluo que esse eu não é assim tão confiável. Ele não é só causa como também consequência. Ele não só determina, como também é determinado. Portanto, caberia ainda uma última pergunta àquele que tanto se orgulha da certeza daquele eu penso: por que deseja a verdade a todo preço?
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