Kant orgulhava-se da sua tábua de categorias. Orgulhava-se, inclusive, de ter descoberto no homem uma nova faculdade: a dos juízos sintéticos a priori. Fazendo uso dessa sublime criação chamada por Kant de descoberta, a filosofia alemã, então, floresceu através dos jovens pensadores que se puseram, com diligência, a descobrir novas faculdades ou algo de mais orgulhoso ainda. Foi um período para lá de inocente e rico do espírito alemão, no qual cantou a fada má do romantismo. Mas eles cresceram, o sonho de descobrir o antídoto para combater o sensualismo prepotente desvaneceu-se e o que restou foi um manto de conceitos cinzentos e senis.
Voltando a Kant, ele então se pergunta: mas como são possíveis os juízos sintéticos a priori? Ele mesmo responde: graças a uma faculdade. Mas será isso uma resposta? Não será apenas a repetição da pergunta? Tais juízos não são, justamente, uma faculdade? Daí temos, os juízos sintéticos a priori são possíveis graças aos juízos sintéticos a priori! Como não ceder aos ares da comédia vinda de tal descoberta?
Mas já é tempo de substituir a pergunta do velho Kant por outra: por que é preciso acreditar nesses juízos? Eu mesmo respondo: para a conservação dos seres da nossa espécie, esses juízos devem ser tomados como verdadeiros, mesmo que sejam criações, e não descobertas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário