Quando fores dormir, noite alta,
Diga ao sono, por mim, que não estou
Mas console-o, se de mim sinta falta
Fui beber com o jovem Rimbaud!
Uso bom faça do travesseiro
Elogie-o a gentil maciez
Mas em sonho me alcance o isqueiro
Que consome esta vil timidez
Co’ cigarro acesso, palavras
Multiplicam as nuvens no céu
Negro manto precede a alvorada
Longa escada conduz ao que é meu
À cerveja e ao seu colarinho
Ébria noite envolvendo o silêncio
Dormes tu, ó razão, e o vizinho
Mas no peito arde alegre o incêndio
Quente brasa do amor que cultiva
Descampado em solo sem cerca
Se te amo, é porque estás viva
Ó quimera, que a lua festeja!
Toda cheia de uivos anônimos
Traz na luz o que resta do dia
Quase nada senão largo ânimo
De tragar o mel da boemia
Noite alta, a cama vazia,
Quadrilátero em que não estou
Dorme só sua espuma macia
Já não durmo, bebamos Rimbaud!
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