quarta-feira, 25 de julho de 2012

MISTO QUENTE IV

Tive sorte no dia seguinte. Chamaram meu nome. Era um médico diferente. Tirei minha roupa. Ele voltou para mim uma luz quente e branca e me examinou. Eu estava sentado na beira da cama.

- Hummm, hmmmm – ele disse –, uh huh...

Fiquei sentado ali.

- Há quanto tempo você tem isso?
- Há dois anos. Vem piorando cada vez mais.
- Ah-hã.

Continuou examinando.

- Agora, deite-se com a barriga para baixo. Volto logo.

Alguns momentos passaram e subitamente a sala estava cheia de pessoas. Eram todos médicos. Pelo menos pareciam e falavam como médicos. De onde eles tinham vindo? Eu tinha pensado que quase não havia médicos no Hospital Geral do Condado de Los Angeles.

- Acne vulgaris. O pior caso que já vi em todos os meus anos de prática!
- Fantástico!
- Incrível!
- Olhem só o rosto!
- O pescoço!
- Acabei de examinar uma garota com acne vulgaris. Suas costas estavam cobertas. Ela chorava. Sabem o que me disse: “Como vou conseguir arranjar um homem? Minhas costas ficarão marcadas para sempre. Quero me matar!”. E agora veja só esse camarada! Se ela pudesse vê-lo, saberia que realmente não tem nada do que reclamar!

Seu puto imbecil, pensei, não percebe que posso ouvir o que você está dizendo? Como será que um homem chega a médico? Será que eles aceitam qualquer um?

- Ele está dormindo?
- Por quê?
- Parece bastante tranqüilo.
- Não, não acho que ele esteja dormindo. Você está dormindo, meu garoto?
- Sim.

Continuaram movendo a luz quente e branca sobre diversas partes do meu corpo.

- Vire-se.
- Olhem, há lesões dentro da boca!
- Bem, como vamos tratar isso?
- A agulha elétrica, acho...
- Sim, claro, a agulha elétrica.
- Sim, a agulha.

Estava decidido.

(...)

Voltou a me cravar a agulha. Então a retirou e cravou numa terceira espinha. Dois outros homens haviam entrado e estavam parados, assistindo a tudo. Provavelmente eram médicos. Mais uma agulhada.

- Nunca vi ninguém agüentar as agulhadas dessa maneira – disse um dos homens.
- Ele não demonstra nenhuma dor – disse o outro.
- Por que vocês não vão beliscar o rabo de alguma enfermeira, rapazes? – perguntei a eles.
- Escute, filho, você não pode falar com a gente dessa maneira!

A agulha me perfurou novamente. Não respondi.

(Charles Bukowisk)
                            

Nenhum comentário:

Postar um comentário