segunda-feira, 23 de julho de 2012

MISTO QUENTE II

Entreguei meu ensaio na segunda-feira. Na terça, a sra. Fretag se dirigiu à classe:

– Li os ensaios de todos vocês sobre a visita de nosso ilustríssimo presidente a Los Angeles. Eu estava lá. Alguns de vocês, pelo que pude notar, não puderam comparecer ao evento por uma ou outra razão. Para aqueles entre vocês que não puderam estar lá, gostaria de ler o ensaio escrito por Henry Chinaski.

Um terrível silêncio se abateu sobre a turma. Eu era de longe o aluno mais impopular da classe. Era como se todos eles tivessem levado uma facada no coração.

– Este é um texto muito criativo – disse a sra. Fretag e começou a ler meu ensaio.

As palavras me soavam bem. Todos escutavam. Minhas palavras enchiam a sala, corriam de um lado a outro pelo quadro negro, ricocheteavam no teto e cobriam os sapatos da sra. Fretag, se amontoando no chão. Algumas das garotas mais lindas da classe começaram a me lançar olhares furtivos. Os caras durões estavam putos da cara. Seus ensaios não valiam merda nenhuma. Eu bebia de minhas próprias palavras como se fosse um homem sedento. Comecei, inclusive, a acreditar que elas representassem a verdade. Vi Juan sentado ali como se eu lhe tivesse esmurrado a cara. Estiquei as pernas e me recostei na cadeira. Logo, porém, estava tudo terminado. 

– Com essa grande redação – disse a sra. Fretag –, encerro a aula.

Todos se levantaram e começaram a guardar seus materiais.  

– Você não, Henry.

Sentei-me na cadeira, e a sra. Fretag ficou ali, me encarando. Então disse:

– Henry, você estava lá?

Tentei encontrar uma resposta. Nada me ocorreu. Eu disse:

– Não, eu não estava lá.

Ela sorriu.

– Isto faz com que seu ensaio seja ainda mais notável.
– Sim, madame...
– Você já pode ir, Henry.

Levantei-me e deixei a sala. Fui para casa. Então era isso que eles queriam: mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas. Será fácil para mim. Olhei em volta. Juan e seu comparsa não estavam me seguindo. As coisas estavam melhorando.

(Charles Bukowski)
        

Nenhum comentário:

Postar um comentário