segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

DIÁLOGO COM BRECHT

SUPER-OUTRO

    Superego,
o fora que está dentro,
    imagem refletida
ao relento.

......................................................

...E com admiração
devemos ainda notar que esse imitador
não se perde em nenhum papel, não se confunde
jamais com o personagem que está interpretando. Permanece
como intérprete, sempre, sem misturas. O outro
não lhe confiou segredo algum, e ele
não compartilha do outro os sentimentos ou pontos de vista;
sabe do outro pouquíssimo. Em sua interpretação,
nenhum terceiro aparece (...)
seu espírito coeso é o de um intérprete a interpretar
dois vizinhos estranhos...
Conduzam o teatro de vocês
de volta à vida prática. Digam: as nossas máscaras
não têm nada de mais, são simples máscaras...

(B. Brecht)
                                                        

domingo, 27 de fevereiro de 2011

DUAS VEZES QUINTANA

O GATO

O gato chega à porta do quarto onde escrevo.
Entrepara... hesita... avança...

Fita-me.
Fitamo-nos.

Olhos nos olhos...
Quase com terror!

Como duas criaturas incomunicáveis e solitárias
Que fossem feitas cada uma por um Deus diferente.

............................................................................

O VELHO POETA

Velho? Mas como?! Se ele nasceu na manhã de hoje...
Não sabe o que fazer do mundo,
Das mãos,
De si mesmo,
Do seu sempre primeiro e penúltimo amor...
E – quem diria? – o que ele mais teme na vida
                                     é o seu próximo poema!
Porque está sempre perigando sair tão
                                           comovedoramente ruinzinho
Como os primeiros poemas que ele escreveu menino...

(Mario Quintana)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ECOADOR

  Nem tudo que ecoa
é dor
  abaixo
da incolor
   Linha do Equador.
                                  

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TUDO SE TRANSFORMA

Tudo se transforma.
Recomeçar é possível mesmo no último suspiro.
Mas o que aconteceu, aconteceu. E a água
que puseste no teu vinho não pode
mais ser retirada.
O que aconteceu, aconteceu. A água
que puseste no teu vinho não pode
mais ser retirada. Porém
tudo se transforma. E recomeçar
é possível mesmo no último suspiro.
  
(B. Brecht)
                                                                                                                                  

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A MÁSCARA DO MAL

Colocado em minha parede tenho uma peça japonesa,
máscara de um demônio maligno, pintada de ouro.
Compassivamente olho
as veias abauladas da fronte que revelam
o esforço que custa ser mau.
..................................................

Nunca conheci alguém sem humor que tenha entendido a dialética de Hegel.
                           
(B. Brecht)
                                                                     

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

EM ÚLTIMA INSTÂNCIA

  O tempo e a distração
me ensinaram:
  por trás da simples rima
vai-se o cigarro.
  Por trás d’uma metáfora,
pão com manteiga.
  Por trás da peripécia,
o café extra.
  Por trás d’um paradoxo,
sobretrabalho.
  Por trás da concisão,
o quanto valho.
  Por trás do didatismo,
valor de uso.
  Por trás da intenção,
lição do abuso.
  Por trás da poesia,
tempo de vida.
  Por trás de toda vida,
guerra e guarida.
  Por trás da conclusão,
erro e acerto.
  Após ponto final,
ponto em aberto.
                                 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

MEDO DE PALHAÇO?

    Num círculo
o mundo inteiro:
   o palhaço e o picadeiro.
                             

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

LIVRO ATA



  Nem todo burocrata
é croata
  e usa gravata.
Quiçá,
  acrobata
que desacata
  insensata
bravata
  de errata
em
  errata.
                 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

INATA AÇÃO

Crawl,
peito,
costas,
pernadas,
braçadas,
mergulho?
Boiando feito entulho!
                               

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

PARADA OBRIGATÓRIA


"... mas tinha que respirar todo dia..."

    Para todo cosmonauta:
terra firme,
    parada incauta.
                                       

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

‘PLAY IT AGAIN’

     Das notas,
sustenido e bemol.
     Reviravolta,
a de Marx, o Karl.
                             

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

CINEMAMERICANO

     Viver a vida
como quem afirma
     é pura nitroglicerina.
                                   

domingo, 13 de fevereiro de 2011

COPO CELESTE

     Domingo, em meu asteróide:
peripécia ou marasmo,
    vou lendo Freud.
                                          

CONSTELAÇÃO

    Via Láctea,
por onde se caminha
    de volta ao seio materno
ou ao seio da vizinha.
                                  

sábado, 12 de fevereiro de 2011

PRETÉRITO PERFEITO

    Passou.
Ficou pra trás.
    Entre naufrágios
e o cais.
                          

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

INICIAÇÃO

     Mal começou o início
e já virou vício.
                                    

INFINITO


    Meio lambendo,
meio lambido.
    Meio gemido,
língua passeia.
    Finda o pudendo:
meia meia meia.
    Meia quadrúpede,
meia sereia.
    Meio desmaia,
meio comove.
    Duas metades,
o meia e o nove.
                         

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

DINOSAURIA, WE




Born like this
Into this
As the chalk faces smile
As Mrs. Death laughs

As political landscapes dissolve

As the oily fish spit out their oily prey

We are
Born like this
Into this

Into hospitals which are so expensive that it's cheaper to die
Into lawyers who charge so much it's cheaper to plead guilty
Into a country where the jails are full and the madhouses closed
Into a place where the masses elevate fools into rich heroes
Born into this
Walking and living through this
Dying because of this

Castrated
Debauched
Disinherited
Because of this

The fingers reach toward an unresponsive god
The fingers reach for the bottle
The pill
The powder
We are born into this sorrowful deadliness

There will be open and unpunished murder in the streets
It will be guns and roving mobs
Land will be useless
Food will become a diminishing return
Nuclear power will be taken over by the many
Explosions will continually shake the earth

Radiated men will eat the flesh of radiated men

The rotting bodies of men and animals will stink in the dark wind

And there will be the most beautiful silence never heard
Born out of that.
The sun still hidden there
Awaiting the next chapter.

(C. Bukowisk)
                                     

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CASO SÉRIO

      Síndrome da mão alheia:
quando a amo,
      me estapeia.
                                                         

À CRÍTICA

   a CRÍTICA
é crítica.
   Não cria,
critica.

Tão cri-cri a tal da CRÍTICA!

   No fundo
nada além
   de raquítica
titica.
                   

domingo, 6 de fevereiro de 2011

QUEM TEM LÍNGUA VAI A ROMA (ou todos os caminhos levam aroma)


  Te calo
quando falo
  com o falo,
quando bebes
  o gargalo.
Me calas
  quando bebo
teu atalho,
  te derramas
no assoalho.
                           

sábado, 5 de fevereiro de 2011

UMA QUESTÃO DE

   Caretas
curtem
   retas.

   Cometas,
cometem.
                

PROPRIEDADE PRIVADA


    Fui ao banheiro:
onomatopéias.
    Reino da poesia concreta,
matéria,
    idéias.
                                   

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

À BAUDELAIRE (ou haxixiana)


     O vício do infinito,
  castigo e satisfação:
     às vezes sim,
  às vezes não.
                                                   

CANA

     Me agrada
a alquimia do líquido alcoólico
     a duas doses
do mundo insólito.
                                    

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DIVINAS TETAS

   Vênus de Milo,
Evoé os seus mamilos!
                       

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

LABOR E INSTINTO

     A sina do labirinto
virar caminho
    guiado pelo instinto.
                               

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

NAVEGAR É PRECISO

          Livros são cartas náuticas
de terras livres,
          de vidas cáusticas.
                                      

PORNOGRÁFICO


Estas
titicas
de
esta-
tísticas
tísicas:
não
que
ofendam,
não
fosse
apenas
e
simples
mente
pôr
no
gráfico
grafias
sem
vida.