quarta-feira, 8 de agosto de 2012

MISTO QUENTE VIII

Eram necessárias duas pessoas para jogar, e eu não ia jogar com o pervertido que era dono do lugar. Então avistei um garotinho mexicano, de oito ou nove anos. Ele veio caminhando pelo corredor. Ele veio caminhando pelo corredor. Um menino mexicano inteligente e de boa aparência.

- Ei, garoto?
- Sim, senhor?
- Quer jogar comigo?
- De graça?
- Claro. Estou pagando. Escolha seu lutador.

Ele deu a volta, olhando através do vidro. Parecia bastante compenetrado. Então ele disse:

- Está bem. Vou escolher o cara de calção vermelho. Ele parece melhor.
- Beleza.

O garoto foi para seu lado e olhou através do vidro. Olhava para seu lutador e então olhou para mim.

- Senhor, não sabe que tem uma guerra acontecendo?
- Sim.

Ficamos ali.

- O senhor precisa colocar uma moeda – disse o garoto.
- O que você está fazendo num lugar destes? – perguntei a ele. – Como você não está na escola?
- Hoje é domingo.

Coloquei a moeda de dez centavos. O garoto começou a mexer seus controles e eu os meus. O garoto tinha feito uma má escolha. O braço esquerdo do seu lutador estava quebrado e só subia até a metade. Jamais chegaria no botão do queixo do meu lutador. Tudo que o garoto tinha era uma mão direita. Decidi não me apressar. Meu cara usava calção azul. Movia-o em todas as direções, fazendo alguns ataques surpresa. O garoto mexicano era incrível, ele seguia tentando. Deixou de lado o braço esquerdo e apenas apertava o gatilho do braço direito. Lancei o calção azul num ataque mortal, apertando os dois gatilhos. O garoto continuava atacando com o braço direito do calção vermelho. Subitamente o calção azul caiu. Desabou com tudo, exibindo um ruído metálico.

- Peguei o senhor – disse o garoto.
- Você ganhou – eu disse.

O garoto ficou faceiro. Não tirava os olhos do calção azul ali estendido.

- Quer repetir a luta, senhor?

Fiquei calado, não sei por quê.

- Está sem dinheiro, senhor?
- Oh, não.
- Certo, então vamos lutar.

Coloquei outra moeda e o calção azul ficou de pé. O garoto começou a apertar seu gatilho e o braço do calção vermelho não parava de socar. Deixei o calção azul afastado por um momento, apenas contemplando. Então fiz um aceno com a cabeça para o garoto. Entrei em ação com o calção azul. Os dois braços socando com tudo. Senti que eu precisava ganhar. Senti que aquilo era muito importante. Não sabia por que era importante e fiquei pensando, por que acho que isso é tão importante?

Enquanto outra parte de mim respondia, é porque é.

Então o calção azul voltou a cair estatelado, emitindo o mesmo ruído metálico. Olhei para ele lá, caído de costas sobre o pequeno tablado de veludo verde.

Depois disso, dei meia volta e sai caminhando.

(Charles Bukowski)
                                                                              

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