sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

XXI


Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais ou Viterbo –
A fim de consertar a minha ignorãça,
Mas só acrescenta.

Despesa para minha erudição tiro dos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.

Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e ao pó tu voltarás.

Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.

Ou na boca do povinho:
- coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco.

Etc
Etc
Etc

Maior do que o infinito é a encomenda.


(Manoel de Barros, O livro das ignorãças)

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