Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais ou Viterbo –
A fim de consertar a minha ignorãça,
Mas só acrescenta.
Despesa para minha erudição tiro dos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
- coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco.
Etc
Etc
Etc
Maior do que o infinito é a encomenda.
(Manoel de Barros, O livro das ignorãças)