Coração sem tamanho
colhe, no mundo,
a doçura dos sonhos.
Semeia sorrisos e levezas,
preenche cavidades
co’alegrias e certezas.
Orgulhoso,
suspira feliz.
Não antevê reviravoltas
o distraído aprendiz.
O mundo, paciente, o observa.
Aguarda o clímax para mostrar-lhe
o tanto a mais que lhe reserva.
Mundo humano e experiente, sagaz e cruel
pretende pôr a toda prova
o coração, sua doçura e o fel.
Acrescenta à risada
um excesso estridente e vazio.
Ao silêncio, a hesitação
que finge que nada viu.
Coração sem tamanho,
então, também colhe a perfídia.
Diz-lhe que, como a tudo, também a ama:
seu amor intenso o paralisa.
Coração sem tamanho
não deseja parar de amar.
Semeia os frutos da infância perdida
submersos na imensidão desoladora do além-mar.
Incerto sobre a medida de si,
busca, na semeadura, o conhecido amor
que já não cabe e só faz ferir.
– Ah, coração errante!
Por que só apazigua-te na solidão?
Por que sonha acordado na linha de fogo?
Por que chora e sorri na contramão?
Diz qual o teu tamanho
e também o tamanho do mundo:
qual dos dois ao outro abocanha
e faz dos séculos indomáveis segundos?
Coração crescido e muito menor
tem o feliz tamanho de tudo que é dito de cor
Nele cabe raso e profundo,
assim como suas dimensões
igualmente cabem no mundo.
igualmente cabem no mundo.
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