sábado, 18 de junho de 2011

CORAÇÃO APRENDIZ

Coração sem tamanho
colhe, no mundo,
a doçura dos sonhos.

Semeia sorrisos e levezas,
preenche cavidades
co’alegrias e certezas.

Orgulhoso,
suspira feliz.
Não antevê reviravoltas
o distraído aprendiz.

O mundo, paciente, o observa.
Aguarda o clímax para mostrar-lhe
o tanto a mais que lhe reserva.

Mundo humano e experiente, sagaz e cruel
pretende pôr a toda prova
o coração, sua doçura e o fel.

Acrescenta à risada
um excesso estridente e vazio.
Ao silêncio, a hesitação
que finge que nada viu.

Coração sem tamanho,
então, também colhe a perfídia.
Diz-lhe que, como a tudo, também a ama:
seu amor intenso o paralisa.

Coração sem tamanho
não deseja parar de amar.
Semeia os frutos da infância perdida
submersos na imensidão desoladora do além-mar.

Incerto sobre a medida de si,
busca, na semeadura, o conhecido amor
que já não cabe e só faz ferir.

– Ah, coração errante!
   Por que só apazigua-te na solidão?
   Por que sonha acordado na linha de fogo?
   Por que chora e sorri na contramão?

   Diz qual o teu tamanho
   e também o tamanho do mundo:
   qual dos dois ao outro abocanha
   e faz dos séculos indomáveis segundos?

Coração crescido e muito menor
tem o feliz tamanho de tudo que é dito de cor

Nele cabe raso e profundo,
assim como suas dimensões
igualmente cabem no mundo.
                               

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