segunda-feira, 31 de agosto de 2009

VIGÍLIA INSENSATA

A cada noite ganhava a rua
Sob o luar recordava-a nua
Sempre pensando em não pensar
Se, meia-noite, o sol virá

Letreiros: nomes impossíveis
Partiam, os carros, sem aceno
Colisões, passos, sereno
Invernos tolos e incríveis

Cego de tanta euforia
Bebia a conta que se não paga
Em goles largos, sinestesia
O tempo estanque, reinventava

domingo, 30 de agosto de 2009

RESPOSTA AO CALENDÁRIO

Bebamos à insensatez
até que, enfim, encontremo-nos sóbrios

Furtemos ao calendário
a ordenação que nos marca os dias

Lembremos em voz alta
o dia acaba, a noite começa

Celebremos sem que nos ouçam
a lembrança esquecida ao poeta

Vejamo-nos adulterados
um pouco de mágoa, um pouco de alívio

Sigamos adulterando
a vil dádiva de estarmos vivos

SÓTÃO





No sótão de minha cabeça
Tem uma casa que fora sonhada
No topo d'uma longa escada
Espiral que me causa vertigem

Nela, dão-me a mão
Um herói que me diz ser eu mesmo
Uma sombra: insepulto desejo
E um clown cujas lágrimas tingem

Com borrão toda tinta da cara
Suscitando risadas e sustos
Impelindo-me a qualquer custo
Ao retorno eterno à origem