Acreditou que sabia tudo
Tinha muitas certezas
Era ignorante
Sobre o ignorante que era
A ignorância o estragou
Era ignorante
Sobre o ignorante que era
A ignorância o estragou
Voltou as costas para o mundo
Passou a ler
Foi leitor voraz
Devorou as letras impressas
Foi devorado pela solidão
A leitura o estragou
Abriu uma garrafa de vinho
Pôs a leitura de lado
Passou a sonhar
Foi poeta nefelibata
Chovia seco no molhado
A poesia o estragou
Atravessou o salão
Convidou a lua pra dançar
Dançou a noite toda
Dançou o trabalho
Dançou a casa
Dançou o futuro
Dançou sem festa ou música
A dança o estragou
Enfim, a visita da morte
Bateu na sua porta
É chegada a hora!
Ceifou suas raízes
Tragou sua mortalha
Expeliu sua fumaça
Bateu as suas cinzas
E o vento as espalhou