sexta-feira, 21 de novembro de 2014

BRETANHA E O SAXÃO


Peregrinando por planícies        que se expandem mortas
Viajante voraz do éter        que à vida envolve véu
Da mansidão me despedi        distante é a minha porta
Vagante eis me convidado        aos negros olhos teus

Abandonado o continente        o império, glória e queda
Troa da tribo a triste marcha        tormenta tez e ti
Sentada sobre a rocha alta        não sabes que te espera
O teu flagelo vindo de longe        paixões, guerras, ardis

Como errante me aproximo        da meta doce é o erro
Que me conduz pelas borrascas        trilhas de terra e céu
Nos envolvendo de vez por todas        seio cruel e terno
Fazendo meu o teu destino        e o meu destino o teu

Terra morena, linda Bretanha        salgadas ondas negras
Do navegante, na voz potente,        o nume emergiu
Tomo-te o corpo, semeio o ventre        te à primavera entregas
E à vertigem do torvelinho        das estações o ardil

Incandescente é o calor         subterrânea é a dádiva
Que avança sobre fronteiras        bandeiras cidadãs
Bebamos barbaridades         desta tragédia impávida
Que promete, a cada inverno,        felicidades vãs

Como chegado enfim partido        me chama a solitária
Estrela clara que, só, navega        noturno peito atroz
A lua uiva a diva jóia        e a mim consagra o pária
Que do éter fez morada        longínqua e estranha foz